quarta-feira, 27 de abril de 2011

Insano amanuense

Após o meu enterro,
Sepultada,
Estou em meio a podridão,
Vermes se alimentam do meu corpo,
Debaixo dessa lama,
Não sou nada mais,
Nem um ser miserável.
Não posso gritar,
Minha voz não tem mais som,
Agora sou somente uma alma
Presa a restos desse corpo.
Tenho nojo de mim mesma,
Mas a deteriorização é inevitável.
Escarre em cima
Desse ser já enterrado
Tão grotesco que não merecer o seu valor.
Mas que ainda tem sua última quimera
Conseguir se livrar desses restos de matéria,
Antes que minhas esperanças sejam
Esmagadas pela terra.
Essa degradação é uma tortura para mim,
Mesmo tão soturna e sombria.
Estou me reduzindo a somente
Números como todos os outros.
Não leve em conta esses devaneios,
Desse amanuense tão insano,
Que nem ao menos sabe se alguém clama sua volta,
Ou chora sua morte.
Morte, morte – que levou embora
a pouca alegria e o amor
que eu quase já não tinha.
De alguém que já foi apredejada,
E agora não conhece seu destino,
Pecadora,
Fruto da acre humanidade,
Merece o ardor das chamas
Com a esperança
De um dia poder bater asas
E ser sublime.
Como um anjo,
Um belo anjo,
Que na escuridão da noite
Possa tocar e acariciar
Sua pele macia.
Beijar-lhe o rosto
E poder lhe dar amor
Por um momento,
Todo amor que um dia não te dei.

Um comentário:

Raquel Beatriz disse...

show de bola este poema.

a.ma.nu.en.se

Substantivo de dois gêneros.
Antigo burocrata que fazia a correspondência e copiava ou registrava documentos.

Parabéns!